A multifuncionalidade da caça de mamíferos na Caatinga nordestina: Uma revisão

VIEIRA, RHIAN VILAR DA SILVA

Resumo

Os mamíferos são um dos grupos animais mais caçados do mundo, sendo sobreexplorados para diversos fins como a criação/domesticação/estimação, zooterapia, comércio, etnoveterinária, uso místico-religioso, uso como pet, lazer e caça de controle, mas fundamentalmente para subsistência de comunidades tradicionais. Na Caatinga isso não é diferente, de modo que a degradação ambiental e antropogênica crônica no bioma acompanha a pressão pelo o uso dos recursos naturais, refletindo uma crise ambiental crônica que é indissociável das desigualdades históricas sociais e/ou econômicas. Nesse contexto a fauna se torna um recurso fundamental à reprodução social para diversas comunidades do semiárido, no entanto, também são alvos de uso predatório. O presente estudo objetivou discutir a multifuncionalidade caça na Caatinga, por meio de uma revisão bibliográfica, em especial na constituição de uma Etnomamalogia no bioma semiárido. Foram selecionados e revisados 107 artigos que compreendem o intervalo entre 1999 e 2022, sendo que a maioria foi produzida por universidades nordestinas e publicada em periódicos de alto impacto internacional. Catalogamos 56 espécies de mamíferos enquadradas em 14 categorias de uso por populações humanas, destacando-se os carnívoros e os roedores. Cerca de 20 espécies de mamíferos estão em algum nível ameaçadas de extinção nacional ou internacionalmente, em especial felídeos. Cerca de 39 espécies de mamíferos são utilizados como recurso zooterapico para tratamento de 31 tipos de doenças humanas segundo o Classificação Internacional de Doenças, além de mais 11 espécies que são utilizadas para uso etnoveterinário. Por fim, cerca de 25 espécies possuem uso mágico religioso. A caça é majoritariamente realizada por homens, com distintos estágios etários (até os 88 anos), são em sua maioria analfabetos, semianalfabetos ou com poucos anos de estudo. Concluímos que a caça corresponde a uma das principais ameaças à fauna da Caatinga, contribuindo para sobre-exploração e ocasionando declínio populacional de espécies já ameaçadas de extinção, e ocorre inclusive no interior de Unidades de Conservação (UC). É uma prática histórica integrada a aspectos sociais, culturais (tradição) e econômicos (pobreza) às populações locais da Caatinga, e de difícil combate, controle e gestão levando em consideração as estratégias legislativas e de conservação atuais. Esse trabalho reitera a necessidade de que as estratégias de conservação devam considerar as necessidades humanas associadas, integrando aspectos culturais de aspectos ecológicos associados à biodiversidade da região, e que a legislação precisa ser alterada para considerar os tipos de interações na Caatinga.

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