O nó de Górdio”: Regimes de Verdade sobre o Sistema Sexo-Gênero no Ensino de História
Epaminondas, Débora Lins
Resumo
O gênero e a sexualidade são fenômenos humanos, cujos arquétipos foram/são instituídos, ao longo dos processos histórico-culturais, como construtos involuntários/padronizados que geram verdades inquestionáveis. Essas verdades se caracterizam como regimes que sedimentam/validam a tradição na correlação que se estabelece entre sexo biológico, gênero e desejo sexual, parâmetros constituintes do sistema binário sexo-gênero. Assim, os regimes de verdade legitimam as bases de saber-poder sobre como “ser homem” e “ser mulher”, assim como expurgam pessoas abjetas, ou seja, as que ultrapassam as fronteiras do binarismo de gênero, como, por exemplo, transexuais etc. Esta pesquisa objetivou compreender os regimes de verdade sobre o sistema sexo-gênero a partir de livros didáticos do Ensino Médio, especificamente no ensino de História, em João Pessoa – PB. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa aplicada, de abordagem prioritariamente qualitativa, do tipo exploratória. O corpus constituiu-se de seis livros didáticos de História do terceiro ano do Ensino Médio, correspondentes às doze escolas técnico-integradas públicas, localizadas em João Pessoa-PB, cuja análise foi feita por meio da seleção e da classificação de categorias, subcategorias e unidades de sentido. Os resultados constataram que o conteúdo dos livros refletem, grosso modo, alguns aspectos, como: a) as conquistas nos/dos papéis de gênero, com destaque para a luta feminista contra o machismo/patriarcado; b) a reivindicação por direitos e, por conseguinte, as transgressões históricas que as mulheres galgaram para si mesmas ao longo do tempo; c) a família nuclear como modelo tradicional-patriarcal; d) a ideia de gênero atrelada ao sexo (binarismo); e) a falta de menção a movimentos culturais/sociais no que tange a gêneros não binários; f) a discussão sobre homossexualidade, em decorrência à perseguição aos gays pelos nazistas, durante a Segunda Grande Guerra, dentre outros fatores. Portanto, mesmo inconsistente/lacunar, os livros gotejam apenas alguns aspectos sobre gênero, notadamente no que tange às conquistas do feminismo, mas há um incômodo silenciamento quanto às múltiplas expressões da sexualidade. Urge o fomento à consciência histórica crítico-genética no cenário do ensino de História no Ensino Médio, sobretudo, devido à conjuntura política atual do Brasil, e as manobras ideológicas com que diretrizes legais e conteúdos de ensino têm sido rearticulados para apagar o sistema sexogênero do debate aberto e esclarecedor. A pesquisa encaminha uma sequência didática, como produto educacional, para que docentes de História do Ensino Médio possam, didática e pedagogicamente, fomentar aprendizagens reflexivas sobre o sistema sexo-gênero.
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