Salve Akaiutibiró! Ecologia de saberes e diversidade artesanal em indígenas potiguara LGBTQIAPN+

Oliveira, Adriano Sérgio Bezerra de

Resumo

A artesania indígena compõe-se como prática de conhecimento germinante das simbioses ontológicas com a terra, a biodiversidade e a alteridade – o outro, cuja práxis alinhava enunciações de sua própria ecologia de saberes, constituinte genuíno do legado étnicocultural de saberes tradicionais, ramificando-se como experiência transformadora. Esta pesquisa objetivou compreender a perspectiva da ecologia de saberes relacionada à diversidade artesanal em indígenas Potiguara LGBTQIAPN+, no litoral Norte da Paraíba. Em termos metodológicos, a investigação classificou-se como aplicada, de abordagem combinada (qualitativa/quantitativa), e tipologia exploratório-descritiva. Foi utilizada a técnica “bola de neve”, a partir da qual a “semente” (primeiro informante) abriu caminhos para as demais pessoas, totalizando um universo de dez artesãos Potiguara autodeclarados LGBTQIAPN+, aldeados em terras indígenas demarcadas no Município de Baía da Traição – PB, a quem foi aplicado uma enquete. A partir deste ponto, foi delimitada uma amostra de quatro sujeitos, autocodificados como Garapirá (homem cisgênero bissexual), Cobra Coral e Bem-te-vi (homens cisgêneros gays), e Îebyra (homem transgênero heterossexual). A estes, foi aplicada uma entrevista estruturada, e posteriormente foi gestada uma curadoria de peças artesanais como produto educacional (PE) consequente à pesquisa, cujas imagens (fotografias) subsidiaram uma “exposição iconográfica” sobre a diversidade artesanal Potiguara. O PE foi selecionado via edital público-institucional, e fez parte da programação oficial da XVIII Semana de Educação, Ciência, Cultura e Tecnologia (SECT – 2023), no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Campus João Pessoa. Para a avaliação pelo público, foi utilizado um formulário padrão (questionário misto), computando 85 respondentes, entre discentes, docentes e servidores técnico-administrativos do IFPB, que visitaram e se predispuseram a apreciar o PE, cuja avaliação foi bastante satisfatória. Já os resultados advindos dos sujeitos indígenas deflagraram que o ofício da artesania deriva-se da infância, como aprendizado intergeracional, um legado antepassado que perdura na linhagem étnico-cultural Potiguara. Como “missão de vida”, o ofício vale-se de matéria-prima colhida, prioritariamente, das matas, rios, praias/mar e terras locais, gerando tipologias artesanais multifacetadas, inspiradas na resistência subjetiva, na identidade coletiva e na consagração à ancestralidade, com destaque para o “pau jangada”, cujas fibras são recursos para várias técnicas e peças, a exemplo das saias para a cerimônia ancestral-espiritual do Toré. Foi constatado, também, que os artesãos Potiguara enfrentam preconceitos de gênero e sexualidade por serem “diferentes”, tanto fora quanto nos próprios aldeamentos, violências simbólicas imbuídas de marcadores subalternos de exclusão social que se interseccionam: indígena + LGBT. Por fim, o legado étnico-cultural e histórico-artístico sobre arte popular e pluralidade de saberes Potiguara pode otimizar conteúdos transversais para a formação omnilateral, fortalecendo a ecologia de saberes, amplificando concepções sobre povos originários, interculturalidade, trabalho, artesania, classe, raça, etnia, gênero e sexualidade, bem como suplantando aporias neoliberais, neocoloniais e neopatriarcais, subscritas como pensamento abissal em currículos compromissados mais com a racionalidade técnica do que com a racionalidade emancipatória.

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