“Ona Odara”: a interseccionalidade na trajetória de vida de mulheres negras na educação profissional e tecnológica
Oliveira, Clarissa Felipe de
Resumo
Esta dissertação desenhou-se como missão social articulada, por sua vez, como jornada acadêmico-científica, cujo fulcro centrou-se sobre o fenômeno da interseccionalidade (raça, classe, gênero, sexualidade etc.), e seus aportes advindos do feminismo negro. A pesquisa foi situada na conjuntura e no plano de mundo da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), e teve como refúgio geopolítico e sociocultural a realidade do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Natal – Centro Histórico, cujo objetivo foi investigar a interseccionalidade na trajetória de vida (acadêmico-profissional) de mulheres negras, na conjuntura da Educação Profissional e Tecnológica. Mulheres estas cujas vivências interseccionais atravessam as experiências educacionais e profissionais na EPT, dando margem para o desvelamento dos objetivos específicos da pesquisa, dentre os quais consta o empreendimento do Produto Educacional (PE), que materializa a práxis que guiou a presente investigação – uma Sequência Didática (SD), intitulada “‘Caminhos Cruzados’: a interseccionalidade no Ensino Médio Técnico-Integrado”, aplicada e avaliada no cenário do componente curricular de Artes, no Ensino Médio Técnico-Integrado do referido Campus. A pesquisa de campo, de abordagem qualitativa, tipificada como bibliográfica, descritiva e exploratória, contou com entrevistas semiestruturadas com duas estudantes e duas profissionais da EPT (docente e técnico-administrativa) – IFRN, Campus Natal – Centro Histórico. Os resultados, matizados a partir da análise de conteúdo, evidenciam o quanto desigualdades estruturais atravessam o cotidiano da EPT, manifestando-se tanto nas práticas pedagógicas quanto nas relações intra-institucionais – ou na ausência delas. Mulheres negras, pessoas LGBTQIAPN+ e estudantes oriundas de contextos periféricos relataram experiências de impercepções político-organizacionais e/ou invisibilização sistêmica, resvalando-se em discriminação e silenciamento que se reverberam no cotidiano a partir de complexas teias de subalternização, fruto de imbricamentos de poder e opressões confluentes. Ao mesmo tempo, também eclodem estratégias de resistência, construção de redes de apoio/dororidade, e constante (re)afirmação identitária no espaço socioeducacional – “Ona Odara”. O estudo aponta que, embora a EPT/IFRN encampe princípios da diversidade/diferença, e se proponha inclusiva, dialética e arbitrariamente, acaba perseguindo e (re)produzindo, nas propulsões das forças inquisidoras do estado, as mesmas dinâmicas excludentes da sociedade colonialista, capitalista e patriarcalista a qual faz parte, urgindo políticas mais comprometidas com a equidade e com a valorização efetiva do bem comum à integridade humana. Defendemos, ao fim e ao cabo, que o reconhecimento das múltiplas interseccionalidades seja condição para a (re)construção de uma EPT verdadeiramente emancipatória, compatibilizando os fundamentos da formação omnilateral, e comprometida com a justiça social.
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