Jogos de tabuleiro e ancestralidade: um caminho afroetnomatemático à educação decolonial
Coelho, Sthefany Iussara de Souza
Resumo
A matemática ensinada no sistema educacional formal é uma construção histórico-social, permeada por relações de poder e influências culturais diversas. Ao longo dos séculos, o conhecimento matemático foi moldado por distintas civilizações, mas a imposição eurocêntrica tendeu a invisibilizar outras formas de expressão matemática, como aquelas desenvolvidas por povos africanos. No Brasil, a promulgação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, reforça a necessidade de repensar práticas pedagógicas que valorizem a diversidade epistemológica. Nesse contexto, a afroetnomatemática surge como uma abordagem que busca integrar saberes matemáticos de matriz africana ao ensino formal, promovendo uma educação mais inclusiva, representativa e decolonial. Diante desse cenário, esta pesquisa tem como objetivo geral investigar como os jogos africanos são abordados na literatura acadêmica sobre Educação Matemática e analisar seu papel na construção de uma abordagem decolonial e inclusiva. Para isso, foram definidos os seguintes objetivos específicos: (i) analisar a relação entre jogos africanos e o desenvolvimento do pensamento matemático; (ii) discutir a importância da afroetnomatemática na formação docente e na prática pedagógica; e (iii) identificar propostas metodológicas que favoreçam a inclusão desses jogos no ensino da matemática em produções científicas da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do Brasil (BDTD). A pesquisa adota uma abordagem qualitativa e se aracteriza como uma revisão bibliográfica, investigando estudos que analisam a presença dos jogos africanos no ensino da matemática sob uma perspectiva tnomatemática e decolonial. A coleta de dados foi realizada na BDTD, considerando publicações relevantes dos últimos 20 anos (2004-2024). Os resultados evidenciam que os jogos africanos, além de estimularem o raciocínio lógico, o pensamento estratégico e a resolução de problemas, representam um meio eficaz para a construção de uma Educação Matemática mais conectada às identidades culturais afrodescendentes. No entanto, ainda existem desafios para sua implementação, como a necessidade de formação docente e a escassez de materiais acessíveis. Recomenda-se a adaptação desses jogos para estudantes com deficiência, a integração ao Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e a ampliação de metodologias que promovam sua aplicação contínua no currículo escolar. Conclui-se que utilização de jogos africanos no ensino da matemática favorece a compreensão e aplicação de conceitos matemáticos de forma dinâmica e representativa. Essas práticas não só contribuem para a aprendizagem de conceitos matemáticos, mas também promovem o reconhecimento da cultura afro-brasileira no ambiente escolar potencializando práticas pedagógicas mais democráticas e plurais, vislumbrando a implementação da Lei 10.639/03 e o ensino decolonial através da ancestralidade.
Citação
Artigo Completo
Items in DSpace are protected by copyright, with all rights reserved, unless otherwise indicated.