Putas de papel: reflexões sobre os espelhamentos simbólicos na representação da prostituta, do sexo e do gozo em “Um Ramo para Luísa”, de José Condé

SILVA, Rian Lucas da

Resumo

Putas, meretrizes, pecaminosas, devassas, imundas, sujas, doentes, destruidora de lares: essas, só para citar alguns predicativos, são formas violentas bastante recorrentes endereçadas às mulheres que possuem, como estilo de vida, a prostituição. Atacadas comumente por uma sociedade patriarcal e machista, as prostitutas continuam a suscitar discussões diversas, embora ainda haja processos de silenciamento e de invisibilidade em torno delas. Em virtude dessas problemáticas, é imprescindível que se debatam questões pertinentes a esse grupo específico de mulheres “da vida”. Isso posto, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) busca, ao tomar como objeto de estudo o romance Um Ramo para Luísa, do escritor José Condé, analisar, principalmente, a maneira como as mulheres, que vivem sob a condição da prostituição, são representadas na tessitura literária no sentido de observar como se dá a representação da figura da prostituta no texto literário selecionado. Este estudo foi realizado mediante pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico, pautado, teoricamente, em estudos feministas de vertente histórica, reflexões filosóficas sobre o feminino, compreensões a respeito da prostituta ao longo da História e pesquisas de gênero e sexualidades, tomando como base alguns autores, como Del Priore (2011a; 2013b; 2020c), Perrot (2003), Beauvoir (2009), Juliano (2004), Roberts (1998), Rago (2008) e Cândido (2012). Realizada a análise, constatamos que as mulheres representadas no romance adentraram nesta vida da prostituição por não terem tido outros caminhos para serem trilhados, dada a obrigação de trabalhar vendendo o próprio corpo para poder cuidar dos filhos. Além disso, percebemos que as meretrizes são concebidas, costumeiramente, como uma simples mercadoria, de maneira que são inferiorizadas e agredidas diversas vezes, tanto de forma física quanto verbal. Por fim, também identificamos que é comum que o sujeito feminino tenha a sua identidade diminuída e mimetizada ao longo da trama, além do foco na erotização e sexualização exacerbada do corpo da mulher, desmerecendo quaisquer outras qualidades que elas pudessem ter. Por conseguinte, a literatura proposta por José Condé lança luz sob uma temática extremamente relevante, pois traz para o centro das discussões um grupo de mulheres – prostitutas – que ainda vive à margem da sociedade, dando-lhes, por meio do texto literário, espaço de existência e, sobretudo, de resistência.

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